quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Cordel


As muitas faces da Coroa
de Tere Penhabe

Coroa, peça vistosa
usada por ancestrais.
Alguns, pouco a mereciam,
outros mereciam mais.
O símbolo do poder!
Que para chegar a ter
se matava por demais.
Feita de ouro maciço
e de pedras preciosas,
nem teria preço aquilo,
pois que foram valiosas.
E como sempre, arrancado,
lá do proletariado,
seja em tributos ou prosas.
Espalhadas pelo mundo,
nos mais diversos rincões,
elas tinham quase sempre,
parceria nos sermões.
Que a igreja vela o poder,
mesmo se não pode ter,
dele, arranca os seus milhões.
Como cunho de moedas,
a coroa se alastrava,
desde os tempos que cachorro,
com linguiça se amarrava.
Que seja por ironia,
coroa é o que mais queria,
até quem não precisava.
Então virou um pendão
para decidir a sorte,
nos botequins mundo afora,
de algo, garante o porte.
Escolher cara ou coroa,
vale qualquer coisa à toa,
menos a hora da morte.
Emprestaram a tal coroa,
(sei eu lá porque também)
para o artefato vistoso,
que tem na boca de alguém.
Sendo o seu dente, postiço,
feito de ouro maciço,
coroa é o nome que tem.
E lá no Espírito Santo,
já virou refrigerante,
de inúmeros sabores,
 
que o povo bebe bastante.
Pede-se uma coroa,
deve ser bebida boa,
já que o seu nome garante.
E se falarmos de plantas...
é coroa em cada clique!
A coroa-imperial,
Coroa-de-moçambique,
Coroa-de-cristo ou frade,
para mim é novidade,
deve ser flor muito chique.
Para a pobre da viúva,
a coroa foi fatal,
já que lhe empretou o nome,
trepadeira ornamental.
E a coroa-de-viúva,
veste tal qual uma luva,
calúnia injusta e banal.
E foi selo das colônias,
de D.Luiz, ao reinar.
O campeonato de turfe,
de coroa, vi chamar.
E para a simbologia,
Cruz coroada servia,
também Coroa solar.
Mas o pior apelido,
que da coroa tiraram,
é o que choca e deprime,
mentira que propagaram.
Essa não dá pra entender,
por mais que venha a querer,
foram loucos que inventaram.
Pois a pobre da mulher,
e o homem também, se diga,
quando já está na ladeira,
que o que mais tem é barriga...
São chamados de "coroa".
Quem pensa que é coisa boa,
oh céus! Não compre essa briga.
Contrário ao que mais parece,
(que coroa é uma menina)
Coroa é aquela mulher,
que já está com tudo em cima!
Seio em cima da barriga,
barriga, o joelho castiga,
em cima da perna fina.
Homem coroa é igual.
Eita fase que encafifa!
Que ele tenta, tenta, tenta
e no colchão se espatifa.
Nada mais funciona ou presta,
se esforça, mas só molesta,
geme, bufa, funga e pifa.


Literatura de Cordel é uma modalidade impressa de poesia, original do Nordeste do Brasil, que já foi muito estigmatizada mas hoje em dia é bem aceita e respeitada, tendo, inclusive, uma Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Devido ao linguajar despreocupado, regionalizado e informal utilizado para a composição dos textos essa modalidade de literatura nem sempre foi respeitada, e já houve até quem declarasse a morte do cordel, mas ainda não foi dessa vez.

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